A partir dos 3 anos de idade, a dentição decídua encontra-se completa. Nessa fase, pode-se realizar análise morfológica da oclusão e da face para definir normalidade ou diagnosticar irregularidades dento-faciais. Mesmo na presença de maloclusões, não indicamos intervenções antes dos 5 anos de idade. Após essa idade boa parte das crianças apresenta receptividade ao tratamento e é importante a orientação aos pais quanto à presença da maloclusão, bem como sobre a sua etiologia, mesmo que o tratamento ainda não esteja indicado.

Ao contrário do que pensa a grande maioria das pessoas, a maloclusão não constitui uma irregularidade exclusiva da dentadura permanente e as irregularidades oclusais e faciais já se expressam desde a dentição decídua com prevalência expressiva. A oclusão normal é identificada em somente um quarto das crianças nesta fase e a frequência de maloclusão equivale a 73,3% dos casos, portanto a ocorrência de maloclusões é bem mais comum do que a ocorrência de normalidade oclusal. As anomalias dentárias apresentam ocorrência bem menos comum na dentição decídua que na dentição permanente e consistem basicamente em supra-numerários, agenesias, fusão e geminação. Um dado importante que precisa ser considerado nessa idade é que a presença dessas anomalias dentárias na dentição decídua constitui indicador de risco para a recorrência de anomalias na dentição permanente. Uma parcela considerável de crianças (de 30 a 60%) com anomalias dentárias em um dente decíduo também apresentarão anomalias no dente permanente sucessor.

A dentição decídua apresenta algumas diferenças em relação à permanente. O número de dentes é menor. São 20 dentes nessa fase contra os 32 na dentição permanente, incluindo nessa conta os terceiros molares. Os dentes decíduos possuem cor branca leitosa, branca ou branca azulada. São, portanto, mais claros que os permanentes. Sua estrutura de esmalte é mais fina, a câmara pulpar é maior e o nível de mineralização menor. Por essas razões possuem menor resistência e maior desgaste com uso normal.

Existem também outras diferenças entre a dentição mista e a permanente. As inclinações axiais, por exemplo, inexistem tanto no sentido mésio-distal como no sentido vestíbulo-lingual (zero de angulações ou torques). Os dentes decíduos são implantados verticalmente na base óssea, havendo paralelismo inter-radicular. Os incisivos encontram-se em boa parte das crianças nessa fase com de 180 graus entre si e comumente apresentam oclusão de topo e as de curva de Spee e Wilson inexistem.

Os espaços interdentais são achados normais na dentição decídua e podem chegar a 10mm na maxila (4mm em média) e até 6mm na mandíbula (3mm em média) e têm importância especial para acomodação dos sucessores permanentes (mecanismo natural de compensação). Esses espaços são congênitos e não adquiridos, portanto, não há aumento desses espaçamentos após a erupção de todos os dentes e nem aumento em largura.

A dentição decídua caracterizada pelos existência de espaços interdentais (arco tipo I e espaços primata) ou pela falta deles (arco tipo II) e está completamente formada em torno dos três anos de idade e, após a sua formação, observam-se mantidas as características básicas da oclusão, exceto pela influência de fatores externos (Baume, 1950).

Um relevante aspecto que precisamos ter atenção na dentição decídua é o tipo de relação terminal que guardam os segundos molares decíduos. Esse tipo de relação indica como será o relacionamento dos molares permanentes quando esses dentes erupcionarem. O plano terminal reto acomete certa de 76% das crianças e levam a ocorrência de classe II nos molares permanentes. O plano terminal com degrau mesial acomete cerca de 14% das crianças e levam ao relacionamento de classe I quando os molares permanentes irrompem. Já o plano terminal com degrau distal que acorre em 10% das crianças também ocasiona relacionamento de molares permanentes do tipo classe II só que de uma forma mais intensa.

Embora os primeiros molares permanentes sempre tenham sido os principais dentes para se determinar o tipo de maloclusão do indivíduo, na dentição decídua usamos a relação dos caninos. Isso porque essa relação é mais fácil de identificar e também por ser mais precisa já que costuma apresentar fidelidade com o padrão facial sagital da criança. Além disso, essa relação apresenta estabilidade ao longo do crescimento e desenvolvimento da face. Assim podemos esperar que, em crianças com relação de caninos do tipo classe I, essa relação de normalidade se repita durante a dentição permanente. Sendo assim, esse é um importante indicador de normalidade para essa fase do desenvolvimento.

Outro importante referencial de normalidade para a dentição mista seria o relacionamento dos incisivos. Esses dentes devem guardar trespasses sagitais e verticais positivos. Em outras palavras, os incisivos superiores deverão estar ligeiramente a frente dos inferiores (sobressaliência positiva) e cobrir esses dentes entre um terço a metade do seu tamanho (sobremordida positiva).

As dimensões transversais normais dos arcos dentários também constituem um importante referencial de normalidade. O arco dentário superior deverá sobrepor o inferior por completo, ou seja, as cúspides vestibulares dos dentes superiores devem ocluir por vestibular dos dentes inferiores, enquanto as linguais devem ocluir contra o sulco central da face oclusal dos molares inferiores.

Na dentição decídua, há também padrões de normalidade para face. Numa análise frontal esperamos perceber a presença de selamento labial passivo e ausência de assimetrias. Na análise de perfil é normal nos depararmos com suave convexidade facial que, com o crescimento se autocorrige desde que o padrão de crescimento esteja favorável. É desejável que já possa ser identificada adequada projeção zigomática e ângulo naso-labial harmônico. O lábio superior deverá estar posicionado suavemente à frente do inferior, o sulco mento-labial deverá estar bem delineado e a linha queixo-pescoço proporcional.

Em crianças com padrão II já nos é possível encontrar características comuns a esse padrão. Observamos nesses indivíduos discrepância sagital entre maxila e mandíbula, perfil facial convexo que pode ser suave ou extremo conforme a gravidade do problema e o lábio inferior bem atrás do superior.

Nas crianças portadoras do padrão III, o perfil facial apresenta-se com convexidade reduzida, o lábio inferior a frente do superior e linha queixo-pescoço alongada. A etiologia do padrão III, na sua maior parte, está relacionada a deficiência de crescimento maxilar e esse é um dado muito importante. Como sabemos o crescimento maxilar se manifesta mais fortemente até os 10 ou 11 anos. Fica fácil, portanto, entender que o melhor momento para se tratar esse tipo de problema seria até essa idade. Intervenções após esse período, produziriam resultados mais modestos ao nosso entender, daí a nossa preferência por tratar esses problemas já na dentição decídua (dependendo da gravidade) ou mista, onde ocorrem o maior número de intervenções desse tipo.

Nos padrões II a etiologia mais comum está relacionada ao crescimento mandibular embora possa também estar relacionada ao crescimento excessivo da maxila. A indicação de tratamento nessa idade vai depender da etiologia do problema. O raciocínio apresentado para o tratamento dos padrões III maxilares também valem para os padrões II maxilares. Ao nosso entender, quando o tratamento precisa ser feito na maxila, os melhores resultados acontecem até os 10 ou 11 anos de idade. Quando as causas estiverem relacionadas ao pouco crescimento mandibular, nossa opção será por abordar o problema em idade mais avançada, próximo do surto de crescimento puberal que acontece no início da adolescência para nos beneficiarmos do fator crescimento que nessa fase acontece com mais intensidade para a mandíbula.

As intervenções mais comuns que recomendamos na dentição decídua estão relacionadas a eliminação de hábitos como sucção digital, deglutição atípica por projeção de língua e interposição ou sucção labial. Como sabemos esses hábitos são considerados agentes etiológicos de malocluões e precisam, o quanto antes e na medida do possível, serem eliminados para que o crescimento e desenvolvimento da oclusão e da face possam se manifestar da forma apropriada. Outra correção também possível e que também recomendamos fortemente nessa fase seriam as correções na estrutura dento-esqueléticas, mas especificamente as correções de mordidas cruzadas anteriores e posteriores. As respostas a esses tipos de tratamento nesse momento são excelentes e produzem resultados, por vezes, impressionantes.

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